Imprensa desportiva e o efeito "Notícia hamburger"

Bem… eu como bom tuga que sou gosto de futebol. Como bom tuga que sou uma das coisas que faço logo de manhã é passar nos quiosques onde se vende os jornais diários desportivos e dar uma vista de olhos na primeira página. E depois como bom tuga que sou vou ver nos websites as notícias se achar que há alguma coisa minimamente interessante.

Obviamente que hoje em dia a pressão que é ter de meter os jornais todos os dias cá fora acaba por criar a tentação nos editores e nos jornalistas de entrarem por campos mais sensacionalistas. Muito ao género das revistas “cor-de-rosa” diga-se. O que é preocupante dado que a grande maioria da clientela é masculina.

Os jornais são um produto e é preciso vende-los. Para isso há que “criar” manchetes apelativas que captem o público-alvo.

Entramos agora num período de férias futebolísticas no que respeita ao campeonato nacional e competições europeias, embora tenha-mos o mundial. E claro entramos naquela fase em que se começa a tentar criar novelas em torno de jogadores e treinadores nos clubes maiores de forma a vender mais uns jornais nesta “época baixa”. Basta ver as últimas edições dos jornais desportivos para se perceber do que eu estou a falar.

É um pouco desgastante para nós leitores estarmos constantemente a ser bombardeados com notícias que na realidade são fornecidas por sabe-se lá quem. E para cúmulo disto não há uma responsabilização por notícias falsas. Diz-se o que se quiser, invocando confidencialidade das fontes, e pronto está tudo bem.

Para mim uma notícia feita com base num testemunho falso por parte de uma fonte não desculpa o jornalista que a faz e o editor que a publica. É da responsabilidade do jornalista de confirmar a autenticidade da mesma e de garantir isenção na sua abordagem. E caso mesmo assim sejam levados ao engano então o mínimo que podem fazer é pedir desculpas aos seus leitores que gastaram dinheiro para comprar o jornal ou revista para estarem a ler notícias falsas.

Infelizmente, e não apenas em Portugal, sabemos que isso não existe salvo raras excepções.

Eu já á muito tempo que não compro um jornal desportivo. Aliás deixei de comprar mais ou menos pela altura em que passaram a ser diários.

Eu se pagar vou querer ler factos. Notícias isentas. Não vou querer ler suposições, diz que disse ou informação de fonte segura que é desmentida no dia a seguir. Há obviamente jornalismo de qualidade em Portugal. Tanto na imprensa desportiva como nas outras. Mas a sensação que tenho hoje em dia é de que a qualidade é a ultima prioridade quando existem prazos a cumprir, concorrência intensa diária e é preciso fechar a edição e ter artigos e primeiras páginas que vendam. Nem que o tema de primeira página as vezes até passe despercebido para quem folheia o jornal… para depois descobrir que a notícia ocupa menos espaço dentro do jornal do que lhe foi reservado no destaque.

Mas enfim… para a imprensa desportiva em Portugal ainda vale a pena alimentar novelas. Estas vendem. E basta um dirigente respirar na direcção de um jogador para este no dia a seguir aparecer na capa de 2 ou 3 jornais sendo dado como certo no clube. Dão-se até ao trabalho de falar com o jogador perguntando-lhe se gostaria de jogar no clube x… ao que este responde, como qualquer jogador que não pode fechar nenhuma porta, que dada a grandeza do clube claro que sim. E pronto… a investigação possível está feita… e temos uma nova novela. Simples, fácil, rápido e vende. Notícias “hamburger”.

Mas não sejamos mauzinhos. Afinal no meio de tanta fonte segura, às vezes até acertam… não se pode é arriscar não noticiar, porque se o vizinho do lado o faz e acerta… lá se vão mais umas vendas para a concorrência. E isso não pode ser.

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