"O mê filho tem um computador"

A minha teoria que a massificação do computador e da Internet veio cedo demais pode ser provado pela forma leviana e pouco informada com que qualquer pessoa pega num computador e o entrega aos seus mais novos a pensar que lhe estão a dar um "brinquedo" como outro qualquer.

Pergunto-me eu quantos pais ofereceram computadores aos filhos sem que eles mesmo saibam trabalhar com a máquina para, pelo menos, controlar o acesso a determinados conteúdos? E saber que uso vai ter?

Quantos é que compram o computador e o entregam ao seu filho, que percebe bem mais do que os pais acerca de como as coisas funcionam, e depois os deixam ao acaso livres de poderem aceder a todo e qualquer tipo de lixo electrónico?

Obviamente que não estou a dizer que agora os pais só por não perceberem da coisa tenham de prejudicar os seus filhos ao não lhes dar uma ferramenta indispensável nos dias de hoje. Ferramenta, não apenas brinquedo note-se. Mas pelo menos podiam-se tentar informar do potencial risco a que expõem os filhos e quem sabe procurar quem lhes possa ajudar a limitar esses mesmos riscos.

A consequência é que temos crianças a serem expostas a tarados nas salas de conversa, a sites pornográficos, a comunidades com temas impróprios para menores, a todo um conjunto de informação que, quer se queira quer não, pode ter uma influência extremamente negativa na criança e até mesmo coloca-la em situações potencialmente perigosas.

Aqui a uns tempos andava na moda falar-se da violência na TV e de como a mesma influenciava os mais jovens. Por incrível que pareça são poucas as pessoas que hoje em dia falam da violência que a Internet transmite à mesma camada etária. Mas pior que isso é que todos sabem disto mais tarde ou mais cedo. E pelas piores razões.

Hoje em dia quem usa a Internet como ferramenta de trabalho sabe que é extremamente simples aceder sem querer a um site menos recomendado. Procuramos uma coisa e encontramos outra complectamente diferente. Sites de pornografia, venda de drogas e medicamentos, etc etc etc... quem é que já não foi parar a um desses sem querer quando afinal procurava algo diferente? Alias um truque que esses sites usam que consiste em colocar palavras-chave usualmente usadas em pesquisas para atrair mais público aos seus sites, mesmo que sem querer. É que mais vale alguém lá cair enganado do que não saber sequer que esse site existe, tornando-se assim um potencial cliente.

Depois há o e-mail. Toda a gente mais cedo ou mais tarde, dependendo dos hábitos de navegação mas não só, começa a receber e-mails não solicitados. Ou porque um amigo menos informado insiste em fazer foward de uma carta em cadeia expondo o e-mail que depois os "spammers" usam, ou porque nos registamos num fórum onde os donos menos escrupulosos vendem a base de dados de e-mails, etc.

Tudo isto passa-se descaradamente debaixo das barbas dos mais velhos, sem que estes sequer parem para pensar no que anda o seu filho a fazer na Internet.

Depois há quem seja mais convencido e diga de boca cheia que não, o seu filho não acede a sites estranhos nem anda em salas de conversa. Claro que esses partem do princípio que o seu filho não sabe o que são aplicações para limpar histórico de operações e esconder potenciais provas de andar a "passear" onde não deve.

Há um ditado que se aplica muito bem nestes casos. "O pior cego é aquele que não quer ver."

A quem se importar com estas coisas recomendo que dêem um salto a alguns sites. Façam uma pesquisa que não dói nada. Se não souberem perguntem ao vosso/a filho/a como se faz.

Deixo aqui um da Microsoft como ponto de partida:

http://www.microsoft.com/portugal/athome/security/children/kidsafetyfaq.mspx

Código DaVinci Codificado

Para quem já leu o livro Código DaVinci do Dan Brown sabe que o mesmo é baseado parte em factos reais, parte em ficção. Só por desconhecimento ou má vontade se pode pensar que este autor pretendeu passar toda a história como sendo factual e verdadeira.

Uma coisa que não me deixa de causar alguma estranheza, e daí talvez nem tanta, é o histerismo que se gerou a volta deste filme, e do livro, e a imediata necessidade de tentar justificar ou provar por a+b de que os factos dos mesmos são enganadores, não vá o povinho começar a fazer perguntas. Falar mal do filme ou avisar os “analfabetos” dos leitores ou espectadores de que afinal se trata de uma ficção, e não algo baseado em factos reais, passou a ser moda.

Apareceram entrevistas com membros da principal organização visada na Visão e na televisão, diversos artigos de opinião, um enorme “ruído” que no final das contas só serviu para despertar ainda mais a curiosidade á volta do filme a acerca da Opus Dei. Tudo isto antes do filme estrear. Entretanto ontem já passou na RTP1 um documentário bastante extenso onde se faz uma passagem por todos os factos do livro, desde Maria Madalena até ao Priorado de Sião sempre com o cuidado de explorar as possíveis más interpretações e erros factuais de uma obra de… ficção.

Na estreia do filme veio a critica que até se deu ao luxo de assobiar, rir durante o filme e apupar o realizador no festival de Cannes. Tudo dava a entender que o filme era mau, péssimo, uma horrível adaptação do livro para o cinema. Tudo serviu para denegrir o filme… até o penteado do Tom Hanks. Desespero a quanto obrigas. Vejam lá se o homem também não tem a barba pouco uniforme.

Eu fui ver o filme e devo dizer que também li o livro. Tanto o livro como o filme estão na minha opinião bastante interessantes. Uma história contada com base em factos uns mais reais do que outros, que o autor conjugou para criar uma obra de ficção diferente e… convenhamos… polémica no sentido em que visa instituições reais. Um enredo interessante e um final que peca por ser um pouco previsível. Primeiro no livro e depois obviamente no filme. Mas mesmo assim não deixa de ser um filme que se vê bem mesmo para quem já leu o livro. Se calhar principalmente para esses.

No meio de tanta polémica uma coisa é certa. Tanta entrevista e tanta critica, acabou por dar mais publicidade ao livro e ao filme. E Dan Brown decerto que agradece. Já alguém dizia que “mais vale ter má publicidade do que não ter publicidade nenhuma”.

O livro e o filme abordam questões que podem por em causa instituições e/ou organizações. Mas chega a ser estranha a forma como o mercado audiovisual foi inundado com artigos e documentários da obra, sempre pelo lado negativo.

Se por acaso não tivesse sido tão criticada e se não tivessem havidos tantos artigos a falar do assunto contradizendo a obra de Dan Brown o mais provável era haver um impacto inicial e depois caía no esquecimento para a grande maioria das pessoas. Assim o filme arrisca-se mesmo a ganhar o dinheiro a que se propôs, mesmo sendo um filme muito mau com um senhor de cabelo esquisito… como os críticos o classificaram.


Imprensa desportiva e o efeito "Notícia hamburger"

Bem… eu como bom tuga que sou gosto de futebol. Como bom tuga que sou uma das coisas que faço logo de manhã é passar nos quiosques onde se vende os jornais diários desportivos e dar uma vista de olhos na primeira página. E depois como bom tuga que sou vou ver nos websites as notícias se achar que há alguma coisa minimamente interessante.

Obviamente que hoje em dia a pressão que é ter de meter os jornais todos os dias cá fora acaba por criar a tentação nos editores e nos jornalistas de entrarem por campos mais sensacionalistas. Muito ao género das revistas “cor-de-rosa” diga-se. O que é preocupante dado que a grande maioria da clientela é masculina.

Os jornais são um produto e é preciso vende-los. Para isso há que “criar” manchetes apelativas que captem o público-alvo.

Entramos agora num período de férias futebolísticas no que respeita ao campeonato nacional e competições europeias, embora tenha-mos o mundial. E claro entramos naquela fase em que se começa a tentar criar novelas em torno de jogadores e treinadores nos clubes maiores de forma a vender mais uns jornais nesta “época baixa”. Basta ver as últimas edições dos jornais desportivos para se perceber do que eu estou a falar.

É um pouco desgastante para nós leitores estarmos constantemente a ser bombardeados com notícias que na realidade são fornecidas por sabe-se lá quem. E para cúmulo disto não há uma responsabilização por notícias falsas. Diz-se o que se quiser, invocando confidencialidade das fontes, e pronto está tudo bem.

Para mim uma notícia feita com base num testemunho falso por parte de uma fonte não desculpa o jornalista que a faz e o editor que a publica. É da responsabilidade do jornalista de confirmar a autenticidade da mesma e de garantir isenção na sua abordagem. E caso mesmo assim sejam levados ao engano então o mínimo que podem fazer é pedir desculpas aos seus leitores que gastaram dinheiro para comprar o jornal ou revista para estarem a ler notícias falsas.

Infelizmente, e não apenas em Portugal, sabemos que isso não existe salvo raras excepções.

Eu já á muito tempo que não compro um jornal desportivo. Aliás deixei de comprar mais ou menos pela altura em que passaram a ser diários.

Eu se pagar vou querer ler factos. Notícias isentas. Não vou querer ler suposições, diz que disse ou informação de fonte segura que é desmentida no dia a seguir. Há obviamente jornalismo de qualidade em Portugal. Tanto na imprensa desportiva como nas outras. Mas a sensação que tenho hoje em dia é de que a qualidade é a ultima prioridade quando existem prazos a cumprir, concorrência intensa diária e é preciso fechar a edição e ter artigos e primeiras páginas que vendam. Nem que o tema de primeira página as vezes até passe despercebido para quem folheia o jornal… para depois descobrir que a notícia ocupa menos espaço dentro do jornal do que lhe foi reservado no destaque.

Mas enfim… para a imprensa desportiva em Portugal ainda vale a pena alimentar novelas. Estas vendem. E basta um dirigente respirar na direcção de um jogador para este no dia a seguir aparecer na capa de 2 ou 3 jornais sendo dado como certo no clube. Dão-se até ao trabalho de falar com o jogador perguntando-lhe se gostaria de jogar no clube x… ao que este responde, como qualquer jogador que não pode fechar nenhuma porta, que dada a grandeza do clube claro que sim. E pronto… a investigação possível está feita… e temos uma nova novela. Simples, fácil, rápido e vende. Notícias “hamburger”.

Mas não sejamos mauzinhos. Afinal no meio de tanta fonte segura, às vezes até acertam… não se pode é arriscar não noticiar, porque se o vizinho do lado o faz e acerta… lá se vão mais umas vendas para a concorrência. E isso não pode ser.

O Metro

As pessoas que andam de transportes públicos em Lisboa são heróis. Vou falar do Metro mas decerto que tal se aplica também a outros transportes.

De manhã, para quem vem de comboio de uma margem ou outra e chega Lisboa na estação de Sete Rios depara-se com um mar de gente que tenta descer as escadas rolantes, ou outras menos rolantes, por forma a rapidamente chegar à plataforma de embarque. Atropelam-se, pisam-nos os calcanhares, roçam, empurram, chamam nomes feios (sim! feios) a pessoas que não conhecem de lado nenhum... as vezes de boca semicerrada para ninguém ouvir... afinal somos educados. Ou não?

Depois quando se chega a plataforma de embarque do Metro, deixam de haver regras. Sim, só nessa altura.


As pessoas perdem tempo a fumar o alcatrão ou a beber as borras do café até que se lembram que falta 10m para entrar e a partir daí vale tudo. Chega-se a ver a malta a olhar sorrateiramente pelo canto do olho, de volta, a criar estratégias para entrarem no metro. Começa-se logo de manhã a exercitar a massa cinzenta.

Quando chega o dito, começa a parte gira da questão. É obvio que tem de haver uma vertente lúdica no meio disto tudo, caso contrário dava tudo em doido. O contacto Humano. O calor Humano. Entre outras coisas menos humanas. As pessoas já sabem onde o Metro pára, por isso fazem logo o ajuntamento estratégico. Para quem não sabe isto é um termo técnico. Só quem lá anda é que o conhece, não vale a pena tentar explicar.

Quando se abrem as portas entram logo de rompante empurrando tudo quando lhes aparece a frente. Normalmente, e porque o homem é um ser que se adapta bem a condições adversas, as pessoas que querem sair antecipam-se e empurram as pessoas que estão á sua frente e essas por suas vez tentam empurrar também para não perderem o lugar. Bonito de se ver.

No meio de tanto empurrão há a grávida que leva uma pisadela ou um encontrão, há o senhor ou a senhora de mais idade que com dificuldade lá consegue entrar, não havendo para isso que haver qualquer acto cívico por parte de quem ali estava mesmo ao lado, e por aí fora. É brilhante sem dúvida. É nestas alturas que nos lembramos com mais orgulho de que estamos, obviamente, num país civilizado

Já dentro do Metro, finalmente, respira-se de alivio por uns segundos por se ter conseguido apanhar o tal que nos deixa precisamente a 5m antes de entrar ao pé da empresa. Mas não respiramos fundo senão teremos de levar com o cheiro a sovaco de quem teve de ir a correr para apanhar a camioneta ao pé de casa.... com o Gás Metano de quem acha que por estar no meio de tanta gente pode libertar silenciosamente o aroma natural.... e pensa que ninguém sabe de onde vem... já para não falar de quem obviamente depois de fumar lá fora vem para o Metro partilhar com os demais cidadãos o cheiro que fica entranhado no seu bafo e na sua roupa.

Ainda nesta sala de espera, as pessoas agarram-se onde podem e outras não se agarram sequer. Estas ultimas, acham que é bonito apoiarem-se nas pessoas que se tentam segurar. Pisadelas, cotoveladas, e até um ocasional e inocente roçar de diversos membros pelas outras pessoas são uma tradição. Se bem que alguns terão muita sorte se conseguirem mexer os olhos. Esses são os que chegam ao trabalho com mau humor, por não terem conseguido participar nas festividades de uma forma mais activa.

Ha quem chegue de mau humor ao trabalho também porque o Metro as vezes teima em não andar. Mas isso são aquelas pessoas que não são heróis... são apenas chatos que acham que estar preso dentro de uma caixa de metal dentro de um buraco com ar pestilento agarrado e encostadinho a tanta gente é algo despresível. São pouco sociais, coitados.

As pessoas quando chegam ao trabalho mal podem esperar voltar para casa para poderem usufruir novamente desta alegria que é andar nos transportes públicos em Lisboa. De tal forma que é ver o povo todo a correr para apanhar o tal Metro que já vai atulhado... mas onde entra mais um. Pelo menos mais um. Nem que a senhora que já está bem encostada e apertada tenha de ser um pouco empurrada. Afinal onde cabe o dobro da lotação máxima, cabe o dobro + 1. Pelo menos assim dita o senso comum.

Eu nem sei como é que há gente que prefere gastar rios de dinheiro e trazer o carro para a cidade.